sexta-feira, 31 de agosto de 2018

O Babismo

O Babismo - por Marcelo Carvalho




Tecerei algumas linhas com a minha experiência e percepção atual sobre os gurus da nova era, em especial,  sobre o guru popstar brasileiro, Janderson, conhecido como Prem Baba.


Essa semana (30/08), saiu em vários sites a notícia de que uma discípula do guru o estaria acusando de abuso sexual.


O guru, como de praxe, já reuniu o  séquito, apresentou seus argumentos sobre o ocorrido, e resolveu entrar em recesso.


Sem entrar no mérito desse caso específico, mas o ocorrido não é novidade.


Quem conhece um pouco sobre os bastidores da vida de gurus, como o Osho, por exemplo, sabe disso.


A geração atual, sedenta por um sentido de vida, insatisfeita com as religiões tradicionais, cai fácil no marketing espiritual de pretensos iluminados.


Voltemos ao Janderson.


O guru, entre 2008 e 2010, teria se relacionado sexualmente com uma devota casada, durante 2 anos, a título de terapia tântrica, para auxiliá-la em seu relacionamento com o marido, que por sua vez também é devoto do guru.


O casamento acabou, a devota, após passar por depressão e pânico, buscou tratamento psicológico tradicional, e chegou a conclusão de que o guru teria abusado sexualmente dela, utilizando seu poder psíquico pessoal.


Um cenário de altíssima espiritualidade, não é mesmo ?


Não tenho nada contra sexo, e nem acho que pessoas espiritualmente elevadas devam ser celibatárias.


Portanto, se o guru tem vida sexual ou não, é problema dele.


Quanto ao Tantra, duvido que atualmente exista algum mestre autêntico.


Creio que alguém que atribui a si mesmo a responsabilidade de ser um lider espiritual, deve ter a elevação moral e ética necessária para isso, e eu pessoalmente não considero, que ceder a tentação de manter relações sexuais durante dois anos com uma mulher casada seja uma atitude de alguém elevado, ainda mais pelo fato da mulher e do marido serem seus discípulos.

 
Complicado né ?

Mas vamos a história da minha breve relação com o Janderson.


Acompanho o trabalho do Janderson desde 2005.


O conheci através do meio daimista, do qual fiz parte.


Devido a minha inexperiência, me  identifiquei com os ensinamentos, que seduzem pela aparência de profundidade.


Na mesma época me informei sobre outros gurus, como o Osho, Sai Baba etc.


Os primeiros satsangs em que fui tinham uma média de 50 a 100 pessoas.


No início da caminhada espiritual é normal achar que necessitamos de guias, gurus, mestres.


Nos sentimos inseguros e saímos em busca de muletas.


O tempo foi passando e fui amadurecendo, estudando, me aprofundando não só no meu estudo interno, no autoconhecimento, como comecei a conhecer melhor a história do Janderson, o funcionamento de sua organização espiritual.


A cada satsang, o público duplicava, triplicava.


Marketing do boca-a-boca e também um bom marketing digital.


Enquanto eu me limitava a ir aos satsangs(quando gratuitos), ler a transcrição dos satsangs pelo site da organização, estava tudo tranquilo.


Até que chegou o momento de querer me aproximar mais das atividades internas, cursos e vivências.


Frustração total.


Valores muito acima das possibilidades de quem ganha pouco.


Tudo muito caro.


Aí percebi que o trabalho dele é direcionado mais especificamente para quem possui melhor situação social e financeira.


Mas  a verdade não é propriedade de ninguém, muito do que ele diz é válido, está de acordo com o que tantos outros já disseram, cada um com o seu colorido particular, e eu continuei o  acompanhando pelas redes sociais.


Só que a "verdade"  transmitida por Janderson, não cumpre o que a  Verdade proporciona.


A liberdade.


Todo mestre autêntico sabe que todos devem ser mestres de si mesmos e oferece o material necessário para isso.


O mestre só auxilia, prepara, põe setas no caminho.


Janderson diz tudo isso, mas induz a práticas que tornam seus seguidores cada vez mais dependentes.


Sim, tem gente grudada na barra da túnica  do Janderson há  mais de 20 anos.


Portanto ele fala em liberdade mas não a proporciona.


Padrão "Osho" de iluminação.


Osho levou ao extremo sua megalomania gurusística.


Quase tudo o que Osho ensinava era plágio descarado de Krishnamurti, um pensador indiano que nunca atribuiu a si mesmo o título de guru, mestre ou iluminado, e que sempre deixou claro a sua visão de que o ser humano não necessita de gurus.


Osho manteve relações sexuais com várias discípulas durante muito tempo, incentivava a prática de sexo grupal, orgias, como terapêutica libertadora, tinha mais de 90 Rolls-Royces a sua disposição, comprados com dinheiro doado as comunas que ele dirigia.


Também pregava a liberdade mas ninguém alcançou a liberdade através dele, de seus ensinamentos e das várias técnicas que ele desenvolveu.


Houve suicídio, pessoas a beira da loucura e o próprio Osho terminou seus dias na Terra de modo triste.


Só a Verdade liberta e ninguém tem o poder de proporcionar a experiência da Verdade prá ninguém.


Esse é um trabalho individual e intransferível.


A questão, portanto,  não diz respeito a julgamento, e sim, a precaução.


Quando alguém alcança a posse de um forte magnetismo espiritual, de dons e faculdades poderosos,  através de anos de várias práticas e exercícios espirituais, mas tendo ainda muitos pontos fracos a serem trabalhados se  autoproclama um iluminado, um guru e assume prá si a responsabilidade de guiar e iniciar pessoas e se utiliza de seu poder para manipular, explorar financeiramente e sexualmente as pessoas, a coisa é muito séria.


Auto-sugestão é um fato.


Há também os que se submetem a certas coisas, de livre e espontânea vontade, por se identificarem, por concordarem com tais práticas. 


Esses nunca farão denúncias por algum tipo de abuso, a não ser por algum interesse escuso. 


Mas fui várias vezes aos "satsangs" do Janderson, tanto no Ashram dele em Nazaré Paulista quanto a outros realizados em São Paulo.


Conheci muitas pessoas. 


Porcentagem alta de pessoas bem  resolvidas financeiramente, mas mergulhadas em profundas crises existenciais, em depressão profunda, muitos a beira do suicídio e tantos outros problemas. 


Ou seja, pessoas altamente vulneráveis, susceptíveis. 


Essas pessoas, em seu desespero, são levadas por amigos ou pelo marketing intensivo, a estes locais sem terem noção de onde estão se metendo.



Qualquer líder, dirigente, mal intencionado, de caráter suspeito, dotado de um poder mental, psíquico ou espiritual, pode vir a tirar proveito disso conforme sua índole.

No meio ayahuasqueiro já aconteceu muito disso, e grandes prejuízos foram causados a muitas pessoas.


Janderson não é um  guru, de acordo com o que essa palavra realmente representa na tradição hindu.


A questão da linhagem ao qual ele pertence e a transmissão da autoridade do Maharaj para ele, é um fato controverso.


Janderson é alguém com muita experiência em yoga, psicologia, espiritualidade, xamanismo daimista, hinduísmo etc.


Possui um grande conhecimento teórico e prático na espiritualidade.


Desenvolveu vários dons.


Se ele tivesse assumido a postura de ser simplesmente o que ele é, um dirigente, um facilitador, um terapeuta, estaria tudo bem, mesmo com o ocorrido.


Mas ele resolveu vestir a máscara de guru, iluminado, autorrealizado, santo (sim, ele já afirmou ser tudo isso).


Juntou os ingredientes necessários e adotou o estereótipo de guru indiano, tão ao agrado dos buscadores incipientes.


Barba comprida, indumentárias hindus, fala mansa, ritos védicos, mantras, satsangs, e um bom marketing espiritual.


Manteve um pouco da sua ligação com o Santo Daime, que de acordo com ele, o ajudou chegar a tão sonhada iluminação.


Quando o ego espiritualizado sonha em se tornar iluminado e se esforça nesse sentido, chega um momento em que ele realmente acredita que alcançou.


É quando ouvimos alguém dizer euforicamente : " Eu me iluminei".


Até que a vida, com sua cruel indiferença aos nossos devaneios, vem e nos mostra o que realmente somos.


Na Iluminação, de acordo com o que os autênticos mestres dizem sobre isso,   não há mais um "eu" prá dizer "me iluminei", "sou iluminado".


É a extinção do ego humano.


A personalidade humana cede lugar a Consciência Universal.


O Janderson nunca deixou de ser o Janderson, apenas mudou de nome quando, no auto-engano ou por ambição, autoproclamou-se um iluminado.


Aí um indivíduo desse, conhecedor que é das vulnerabilidades humanas dos que o seguem, os convence de confiarem plenamente nele, entregarem suas vidas a ele.


O resultado já conhecemos.


A Lei do Karma, da  qual esse pretenso guru tanto fala, é inexorável, e já está em ação.


Mais uma vez repito: usar de poder espiritual para manipular massas de  pessoas suscetíveis é um crime perante as leis universais.


Que esse fato, já tantas vezes ocorrido com outros pretensos iluminados, traga as lições necessárias a todos nós.

sábado, 21 de julho de 2018

POESIA DA AUTORREALIZAÇÃO: Da lagarta à borboleta - Huberto Rohden

POESIA DA AUTORREALIZAÇÃO:
Da lagarta à borboleta - Huberto Rohden
 
 






Quando a consciência do Infinito se torna maior do que a consciência do finito, estamos na iniciação e quando a consciência do Infinito se torna muito mais expandida do que a consciência do finito, então temos a autorrealização.

Vamos usar a poesia da natureza para esclarecer melhor esta idéia da iniciação e autorrealização.

Vamos tomar, por exemplo, a Lagarta e a Borboleta.

A lagarta destrói os nossos jardins, as nossas árvores, comendo folhas diuturnamente.

A lagarta é como um tubo digestivo com uma boca e nada mais.

Ela é todo estomago: come, evacua e pronto!

A lagarta come durante algumas semanas, de repente, ela passa a não comer mais, suspende toda a alimentação, fica num estado de silêncio, como se estivesse doente, como se fosse morrer.

Ela faz um jejum no final do período. Depois ela vai para um local sossegado... e logo já não é mais lagarta! Aparece outra coisa que nós chamamos de Crisálida.

Depois de algumas semanas, para nossa surpresa, nem a lagarta e nem a crisálida estão lá.

O que é que está lá?

Uma linda borboleta!

Que ser maravilhoso que é uma borboleta! A borboleta não é nada parecida com uma lagarta. Possui um corpo belo e esbelto, quatro asas maravilhosamente desenhadas, seis perninhas fininhas como uma agulha... a lagarta não tem pernas, tem uns "toquinhos" para se agarrar.

A borboleta possui dois olhos hemisféricos. Cada um desses olhos possui seis mil facetas visuais, num total de doze mil olhos. Ela não pode mover os olhos como nós, mas ela vê de todos os lados ao mesmo tempo.

A borboleta, ao contrário da lagarta, não come quase nada... Ela só bebe uma gotinha de néctar extraída com sua lingüinha espiral do fundo do cálice da flor. Ela suga um pouquinho de néctar e sae voando, voando...

Livre pelos ares.

Ela não come nada, não destrói nada, não faz mal a ninguém.

Podemos nos perguntar: Como que algo tão maravilhoso como uma borboleta, pode sair de algo tão pequeno, tão feio, rastejante, sem asas e comilona como uma lagarta?

O mistério está na crisálida!

Ovo, lagarta, crisálida e borboleta...

Que belo e misterioso processo!

A lagarta morre, vira crisálida, a crisálida arrebenta pelas costas e finalmente, sai a borboleta, com suas asas todas úmidas e embrulhadinhas! Depois que as asas secam ao sol, a borboleta está pronta para voar! Essa maravilhosa transformação ocorre dentro do mistério da crisálida, onde tudo está fechado, sem nenhuma porta, sem janelas, um local silencioso que mais parece um laboratório, coberto por uma camada que parece matéria plástica chamada quitina. A quitina é uma espécie de celofane que a natureza criou. Quando olhamos para a crisálida, parece que ali não está ocorrendo nada...

Silenciosa por fora e numa atividade tremenda por dentro! Dia e noite por semanas inteiras...

Quem está trabalhando ali dentro?

A vida... O principio vital do ovo passou para a lagarta, que passou para dentro da crisálida, que passará para a borboleta...

Podemos dizer que o principio vital é a alma da borboleta. É uma alma em quatro corpos...

Este é um símbolo maravilhoso para a evolução da alma!

No princípio, todos nós somos parecidos com uma lagarta. O homem profano, materialista, que só se preocupa com as coisas do corpo, que só pensa em comer, comer e divertir-se, que não possui ainda nenhuma consciência de que possui a alma é o que podemos chamar de estado da lagarta.

A lagarta é o símbolo do homem profano: ele não tem nenhuma consciência da sua alma e vive no mundo da horizontalidade. A lagarta não sabe nada de que vai ser uma borboleta, ela só quer comer, digerir, é o homem materialista.

O grosso da humanidade ainda está no estágio de lagarta. A lagarta é o homem-ego que não possui nenhuma consciência de sua alma, do seu eu, da sua realidade espiritual e que vive somente paras as coisas materiais e para a satisfação dos seus instintos degenerados.

Alguns deles deixam de ser lagarta, mas não são muitos - a maioria morre como lagarta, nem mesmo chegando ao estado de crisálida.

Quando é que o homem deixa de ser lagarta e passa a ser crisálida?

É quando depois de muito tempo como lagarta, passa a sentir uma inquietude interna que o chama a ser outra coisa.

A lagarta, no fim de sua vida, passa a ter um pressentimento de que está na hora de terminar a sua atual maneira de viver como lagarta. Então ela vai a direção à morte, morre como lagarta, se transforma num pequeno ataúde, algo parecido como um esquife, joga fora a sua pele de lagarta, fecha-se ao redor de si, se enclausura como num tipo de meditação.

Quando fazemos meditação, não olhamos para fora da janela, ficamos num local com as portas fechadas, com as luzes apagadas e em estado de profundo silêncio.

Muitos, por ainda estarem no estágio final da lagarta, ainda não são capazes de fazer meia hora de profundo silêncio físico, mental e emocional.

Somente quando se transformam em 100% crisálida é que conseguem fazer este silêncio absoluto e imobilidade completa.

Você nunca vê uma crisálida fazendo barulho ou movimento. Não: ela está ensimesmada, completamente concentrada dentro de si num pequeno espaço...

E o que é que nós fazemos quando estamos em estado de crisálida, isto é, em estado de meditação?

Não fazemos nada? Não...

Fazemos muita coisa! Não fazemos nada por fora, mas fazemos muito por dentro. A meditação não é um estado de passividade, é um estado de tremenda atividade sem ruído e movimento. Muitos pensam que atividade é correr de lá para cá, fazer barulho... Isso não é atividade, isso é afobação.

Atividade dinâmica é aquela que não se manifesta por fora, mas se realiza por dentro.

A crisálida está numa tremenda atividade dinâmica, não numa atividade ruidosa por fora que é do ego. A crisálida é o símbolo do Eu sem o ego que se pergunta: Que sou eu?

Na meditação nós não sabemos nada sobre o nosso corpo... O corpo da lagarta não existe, não sabemos nada dos nossos sentidos...Não vemos, não ouvimos, não falamos, não pensamos e não queremos nada. É um estado de absoluta passividade dinâmica. Passiva por fora - ativa por dentro. Temos consciência, mas não temos palavras e nem pensamentos.

Acabou-se o ego, permanece somente o Eu plenamente vivo e consciente de nós.

No silêncio da crisálida se devem formar todos os órgãos da borboleta.

No silêncio da meditação se devem desenvolver todos os órgãos do nosso espírito, da nossa alma.

O que para o inseto é a borboleta, isto para nós é a alma. A borboleta representa muito bem a espiritualidade, por que ela é leve, vive na luz, vive nas alturas, não come quase nada, apenas bebe de vez em quando uma gotinha de néctar do cálice das flores... Pousa nas flores, mas geralmente não pousa na terra. A lagarta sempre rasteja pela terra enquanto a borboleta voa pelo ares.

A transição do ego para o Eu espiritual se faz durante o período da crisálida, da meditação.

A natureza nos deu este exemplo maravilhoso da transcendência do homem ego profano, através do homem místico, rumo ao homem cósmico.

A borboleta representa o homem plenamente realizado. A crisálida é o principio, a iniciação para esta realização. A lagarta não começou nem a iniciação, muito menos a autorrealização.

Podemos comparar o período anterior à iniciação e anterior a autorrealização, com a lagarta.

Depois, na iniciação, nós viramos crisálida, desprezando todas as coisas materiais só tratando das coisas espirituais.

É o período da mística isolacionista espiritualista.

A crisálida se isola completamente do mundo exterior, é exatamente como o místico da caverna, da solidão... Ele não quer saber nada do mundo externo e só pensa em Deus, Eu e Deus. Come somente o necessário para não morrer. A crisálida não é o estado definitivo, por que depois da crisálida vem a borboleta que representa o homem cósmico, o homem crístico, o homem integral que nunca mais vai voltar a ser lagarta, mas que entra em contato com todas as pessoas bem como com todos os elementos da natureza.

Este é o estágio final da evolução do homem.

Estágio de ovo.

Estágio de lagarta, do homem profano.

Estágio da crisálida, do homem místico, isolado não querendo saber nada do mundo externo.

Estágio de borboleta, do homem crístico, cosmificado.

A lagarta não pode se reproduzir, não pode se imortalizar, pois não tem sexo. A borboleta já possui sexo, masculino ou feminino. A imortalidade deste inseto depende do último estágio: se a lagarta não virar borboleta, sua espécie morre.

A divisão dos sexos acontece dentro da crisálida.
Na natureza não existe imortalidade pessoal, individual, mas existe imortalidade racial.

Todos os seres infra-humanos se imortalizam na espécie e não no individuo. Para poder ocorrer a imortalização da espécie se faz necessário a união dos sexos. Na humanidade ocorre um processo diferente, pois o próprio individuo pode imortalizar-se. Isto é um privilégio da raça humana.

O homem não pode se imortalizar no estado de lagarta, no estado ego. O ego tem que desaparecer para que o homem possa chegar até as alturas do Eu, que é o estágio da borboleta. Se a pessoa não chega a plena consciência do seu Eu, da sua Alma, do seu Espírito, não tem como se imortalizar.

Pode ser que muitos aqui na terra não cheguem à consciência do Eu, mas podem se imortalizar mais tarde, por que a vida da evolução não termina neste espaço-tempo.

Nossa individualidade humana continua mesmo depois da morte física do nosso corpo. Depois, continua a possibilidade de imortalização. Ninguém sabe quanto tempo temos para nos imortalizarmos. Talvez milhares de anos... O nosso ciclo evolutivo ninguém pode saber. O certo é que não está restrito ao curto espaço desta vida terrestre.

Como dizia um dos maiores mestres: "Na casa de meu Pai celeste há muitas moradas..." Há muitos mundos... Há muitos estágios de existência!

Talvez a terra seja o primeiro estágio da nossa evolução. A gente vive comendo, comendo, comendo como se fôssemos lagartas.

Provavelmente, em outros mundos, seja diferente, não tendo um corpo físico como a lagarta, talvez um corpo astral, talvez um corpo etérico, talvez um corpo de uma substância muito mais refinada do que esta grosseira matéria da qual vivemos diariamente.

Pela meditação, nós podemos acelerar nosso processo de evolução. Esta é a grande novidade para nós. Não devemos pensar que necessitamos de milhares de anos para chegarmos a ser borboletas, isto é, uma entidade espiritual. Isto não é verdade! Se alguém colocar bastante esforço na sua concentração(1), na sua meditação ele pode abreviar a sua própria evolução rumo à espiritualidade definitiva. Isto não depende de uma ação do tempo externo - isto depende de uma ação interna por parte do individuo, uma ação voltada para a conscientização da sua realidade espiritual: Eu e o Pai somos um - o Pai está em mim e eu estou no Pai.

E alguém se conscientizar disto, com toda a sua intensidade, se focalizar a sua consciência na sua realidade espiritual, é certo que ele pode abreviar o tempo da sua evolução. Pode chegar a ser borboleta muito antes dos outros, não precisando passar por tantos anos de sofrimento através do qual tem que passar as lagartas antes de se tornarem borboletas. A borboleta vive na espiritualidade do solo do ar.

Não sofre com a horizontalidade imposta à lagarta.

Podemos nos verticalizar ao invés de nos horizontalizar. Horizontal é para o ego - vertical é para o Eu.

Podemos reduzir a nossa horizontalidade de lagarta e passar para a vertical da borboleta, o que torna a nossa evolução muito mais rápida.

Todos os grandes mestres da humanidade insistem fortemente na necessidade do egocídio.

"Se o grão de trigo não morrer, ficará estéril, se morrer, produzirá muitos frutos"- Jesus.

"Eu morro todos os dias e é por isso que eu vivo, não sou eu quem vivo é o Cristo que vive em mim" - Paulo de Tarso.

Quando a nossa lagarta ego morre para a sua vida ego e entra na realidade mística do seu Eu, esse é o primeiro estágio da evolução espiritual. A lagarta morreu para dentro da crisálida, mas ela não morreu para dentro da morte, senão não teria surgido a borboleta. Ela morreu como lagarta e não como vida. A vida da lagarta foi transferida para a crisálida. Aqui não há morte, apenas a vida está em outro estado. Deixa da vida extrovertida, para uma vida introvertida.

A meditação é uma introversão espiritual. Quando a gente olha para dentro de si e não mais para o exterior, então, estamos numa vida introvertida. Isto é a crisálida. Para a lagarta, isto é uma espécie de morte. A borboleta é a vida definitiva. A borboleta pode se quantificar, mas não pode se qualificar. Uma borboleta pode dar muitas lagartas por meio dos ovos, isso é quantificar, mas ela não pode se qualificar. Ela não pode dar uma qualidade superior a sua borboleta - isso seria a imortalidade da borboleta.

Na natureza, os indivíduos não se imortalizam, apenas se quantificam, não se qualificam, não podem obter uma qualidade superior.

O ser humano tem o dever de ultrapassar a sua borboleta e se imortalizar individualmente.

Todos os mestres da humanidade sabem que a nossa imortalidade depende da consciência espiritual de nosso eu.

Se a pessoa não adquire esta consciência não se imortaliza.

Cada um de nós deve ver e se questionar em que estágio se encontra em sua evolução e como pode ultrapassá-lo. Poucos de nós se encontram no estágio de crisálida. O grosso da humanidade se encontra no estágio de lagarta.

Aqui e ali, encontramos alguns místicos que já se encontram no estágio da crisálida, de meditação.

A meditação é o estado em que nos esquecemos de toda exterioridade, que é da lagarta, e entramos na interioridade, que é da crisálida. Quanto mais vezes fizermos esta interiorização de lagarta para crisálida, tanto mais aceleramos a nossa evolução rumo à definitiva borboleta. Isto é absolutamente certo!

As leis da física são as leis da metafísica.

Nós podemos entrar diariamente no estado de crisálida, fechando todas as portas dos sentidos e da inteligência. Então, entramos na solidão silenciosa da crisálida e se permanecermos uma hora inteira, nesse estado, longe dos sentidos, longe da inteligência, longe dos desejos, completamente isolados na consciência espiritual, então estamos no estado de crisálida. E se ficarmos diariamente, nesse estado de crisálida, de mística isolacionista, preparamos, pouco a pouco, o nosso corpo futuro da borboleta espiritual.

O ser humano sempre imagina que depois da morte não temos corpo. Sempre teremos corpo, não o corpo físico e matéria de agora que é o mais primitivo. Corpo não é só matéria e pode ser imaterial. O corpo astral e o corpo etéreo são um corpo, mas não um corpo material.

Paulo de Tarso diz que existem muitos tipos de corpos e a ciência de hoje sabe que quando a energia se congela, então temos a matéria e quando a energia se descondensa, temos a luz. Depois vem um corpo de energia pura, chamada corpo astral.

Quanto mais vezes entrarmos num estado de meditação, de crisálida, tanto mais nós transformamos o corpo matéria num corpo extramaterial. Podemos preparar exatamente agora nesta vida, o nosso corpo futuro. A crisálida prepara o corpo futuro da borboleta em grande silêncio. Depois de algumas semanas, o corpo da borboleta já está formado dentro da crisálida. Do que é que ela formou o corpo da borboleta se não foi buscar nada de fora? Ela se serviu da matéria prima do corpo da lagarta e transformou aquele mingalzinho verde, nas asas e no corpo maravilhoso da borboleta. Quer dizer que na crisálida há uma laboração, é um laboratório, onde o corpo da borboleta é preparado.
Então, a borboleta rompe com a casca da crisálida com as asas todas enroladinhas, depois ela abre as asas e começa a voar.

Podemos fazer com a meditação, a elaboração do corpo da nossa futura borboleta espiritual; nós não precisamos saber como, pois as próprias leis cósmicas se encarregam disto.

Só precisamos ficar na solidão, em bastante concentração(1) durante algum tempo e depois o resto acontece naturalmente.

Muitas pessoas bem ou mal, já estão se dedicando a prática da meditação, pois já se conscientizaram que esta é uma prática necessária para a nossa evolução.

Muitas delas ainda se preocupam com técnicas meditativas.

Atualmente existem tantas técnicas de meditação, tantos livros, que as pessoas acabam desanimando e desistindo logo de inicio. Acabam encostando os livros e deixando a prática da meditação de lado.

A única técnica que realmente funciona é esvaziar-se totalmente da consciência do seu ego e nada mais.

Não fazer, não pensar, não falar e não querer nada. Somente fazer uma vacuidade total do seu adorado ego...

O Ego não gosta e se revolta com esta prática. Ele quer fazer algo!

Se alguém é capaz de se esvaziar totalmente da egoconsciência, vai acontecer-lhe a coisa mais grandiosa que é a invasão da cosmoconciência, ser invadido pela Alma do Universo que é Deus.

Isto não é uma descida para o inconsciente, mas sim uma subida para o supraconsciente.

Durante a meditação, entramos na supraconsciência e não na infraconsciência.

Entramos no êxtase, no Samadhi, o terceiro céu.

Por aqui podemos ver a importância da humanidade aprender a fazer o que toda a natureza faz por meio dos seus estágios de evolução.

 *(Huberto Rohden)*

Nota minha :

(1) O termo "concentração" é evitado por vários pensadores, pois indica tensão, esforço.

Na meditação, seja sentado ou em atividades corriqueiras do dia-a-dia, o termo mais adequado a atitude meditativa seria "atenção plena", observação sem análise,  julgamento, comparação, classificação, repressão, objetivos, metas, desejos, anseios etc.

Concentração requer esforço, que gera tensão, que por sua vez torna-se uma barreira ao estado meditativo.

Qualquer esforço no sentido de parar os pensamentos, alimenta-os, fortalece-os.

Com a atenção plena tornamo-nos cada vez mais conscientes dos "espaços vazios" que existem entre a enxurrada de pensamentos, ideias,  imagens, memórias,  devaneios que surgem na mente.

Com a prática constante, os conteúdos internos vão diminuindo e os espaços vazios vão aumentando. .

Até que ... quando menos se espera ... a "coisa" acontece ...

domingo, 1 de julho de 2018

As muletas nossas de cada vida


 As muletas nossas de cada vida



 

Melhor andar do que não andar.

Se prá andar necessitas de muletas,  use-as, mas ande.

Mas, quando se sentires mais forte e confiante, abdique do uso das muletas e continue a andar sem elas.

Em nossa vida intelectual, mental, emocional e espiritual ocorre o mesmo.

Muitas vezes não conseguimos andar sem as muletas.

Nos sentimos inseguros, fracos e perdidos.

Em tal situação buscamos por  meios,  caminhos que nos auxiliem a viver.

Seja uma religião, doutrina, guias, gurus, mestres, instituições e  grupos.

Em nossa angústia nos encontramos  vulneráveis.

Nesse estado podemos fazer escolhas  equivocadas.

Há uma infinidade de muletas oferecidas nos mercados da vida espiritual.

Muletas caras, baratas, bonitas, exóticas, complexas, simples etc.

O importante é andar.

Se as muletas ajudam a andar então vamos usá-las.

Mas, talvez, já estejamos nos arrastando e não mais andando.

Talvez, percebamos depois de um tempo que a muleta escolhida é muito cara.

Ou, que era muito bonita, mas não funciona bem.

Uma outra, que por trás da aparência exótica, complexa, falta autenticidade.

Há uma engenhosa manipulação de conceitos, falácias argumentativas dificilmente percebidas pelos que, por vários motivos, não se aprofundam nos conceitos que absorvem.

A questão é que investimos muito nas muletas no campo religioso, espiritual.

Investimos tempo, dinheiro, investimos nossas vidas.

Criamos um estilo de vida baseado no que abraçamos.

Nos condicionamos.

Nos tornamos dependentes.

Perdemos a coragem de abandonar as muletas mesmo sabendo que não mais precisamos delas, ou quando descobrimos que elas não eram verdadeiras ou necessárias de fato.

E os criadores dessas muletas esperam isso mesmo, apesar de muitos dizerem que não.

Muitos criadores de muletas já não se encontram mais neste mundo e muitos, ainda assim,  continuam usando suas muletas.

Na vida espiritual há que se ter autonomia, liberdade, experiência  própria

Os verdadeiros mestres nos deixaram ensinamentos que levam a isso.

Mas muitos  fabricantes de muletas adaptaram ou corromperam esses ensinamentos para poderem vender suas muletas.

E as pessoas compram.

Mas a vida segue em frente.

A inteligência, a percepção, se desenvolvem inexoravelmente.

Mais cedo ou mais tarde descobrimos  nossos enganos e escolhas equivocadas.

A decepção é grande, sentimos a ausência de chão.

Mas é o início de uma vida plena, liberta de líderes, mestres, gurus, guias, instituições.

Claro que sempre tentarão nos convencer de que precisamos deles.

O pastor-muleta dirá que precisamos ir na igreja, nos converter, ouvir a palavra, dar o dízimo e ofertas.

O padre-muleta idem, mais a necessidade do batismo, da eucaristia etc.

O guru-muleta com barbas grandes ou não, com cabeleira ou não e com  indumentária hindu,  nos convencerá da necessidade de receber o 'darshan', beijar seus pés, cantar mantras orientais, fazer os cursos e ritos de iniciação nos ashrams a preços 'avatáricos'.

Devotos ricos e extasiados com a graça recebida,  doarão fortunas para a continuidade da 'muletocracia gurusiana'.

Precisamos nos aprofundar mais em questões como auto-sugestão e inconsciente coletivo  para entendermos melhor o que ocorre em ambientes com grande quantidade de pessoas, como igrejas, templos etc.

A lista de muletas religiosas, místicas, espiritualistas, da atualidade é grande.

Sim, com certeza essas muletas têm a sua utilidade para muita gente, para os que ainda não despertaram para um real interesse pela espiritualidade.

A maioria busca por soluções de problemas, status, prosperidade,  compensação etc.

Para muitos trata-se tão somente de um meio de fuga.

Fuga de si mesmo, da solidão, do medo, da angústia, dos problemas.

Para alguns a fuga é através de comida, bebida, drogas, sexo, diversão, TV, cinema, esporte, trabalho ...

Já para outros os meios de fuga são igrejas, templos, satsangs, cantar mantras, se ocupar com obras sociais, que em si mesmas são boas e necessárias, mas que muitos,  consciente ou inconscientemente, usam como meio de fuga.

Algo que está na moda e se expandiu bastante é o uso de plantas, fumadas, bebidas ou comidas, em rituais e cerimônias, que levam, como dizem, a expansão da consciência.

Como conhecedor, não posso negar os benefícios que há para muitos, mas que para tantos outros tornou-se também uma muleta.

E muita gente, prá variar, lucrando com isso.

A maioria não consegue ficar a sós, silenciar, orar, meditar.

Não.

Preferem ir ocupar suas mentes com alguma atividade,  religiosa, mística, ou não.

Até a prática de meditação, para muitos, pode tornar-se, também, um meio de fuga.

Isso, sem considerar algo muito em voga atualmente, que é a ostentação mística.

Os que só meditam em locais públicos, escolas de Yoga, com as devidas indumentárias para dar o clima místico.

Tiram 'selfies' em magnífica posição de lótus e postam nas redes sociais para que todos saibam que eles meditam.

Incapacidade de, na solidão, mergulhar fundo, em silêncio, em tudo que aflige, incomoda, com corajosa introspecção e análise para a devida compreensão e transcendência.

É o mundo.
...
...
Um liberto disse há 2000 anos que temos que buscar em primeiro lugar, o que ele metaforicamente chamava de 'reino dos céus'.

Quando lhe perguntaram o que é isso, onde ficava isso, ele não respondeu se referindo a pessoas ou lugares.

Simplesmente disse:
 
'Está dentro de vocês'.